A consultoria INTL FC Stone fez uma análise dos principais países produtores e importadores de soja, para traçar as perspectivas para o próximo ano.
O ano ainda não acabou, mas para os produtores de soja, tirando a preocupação em realizar as aplicações de agroquímicos, a atenção já está em como será 2020. Principalmente em relação ao clima na hora da colheita e o mercado na hora de vender os grãos. Para ajudar na tarefa de posicionar os agricultores, a consultoria INTL FCStone destacou alguns pontos que devem merecer a atenção no próximo ano.
Como foi 2019
Segundo a consultoria, para a soja, o ano foi marcado pelas perdas na safra dos Estados Unidos, assim como a falta de acordo comercial entre os norte-americanos e os chineses e a peste suína africana gerando impactos na oferta e demanda do grão.
“Após ter suas exportações fortemente impactadas pela guerra comercial, os EUA enfrentaram problemas pelo lado da oferta, com a produção de soja ficando abaixo de 100 milhões de toneladas. Essa produção menor levou o balanço de oferta e demanda do país para uma situação bem mais equilibrada em relação aos estoques, com as estimativas apontando para um volume de 12,9 milhões de toneladas, quase a metade dos 24,8 milhões de toneladas de 2018”, diz.
O que observar em 2020
Segundo a INTL FCStone, com exceção de alguns períodos em que a China comprou volumes mais significativos da soja norte-americana, como um sinal de boa vontade em meio às negociações comerciais, as compras continuam bem abaixo do que se observava antes da taxação de 25% sobre a soja dos EUA.
“A última estimativa do USDA para as exportações está em 48,3 milhões de toneladas para a safra 2019/2020, pouco acima do alcançado no ciclo anterior, que ficou em 47,6 milhões de toneladas. Caso haja algum acordo entre os dois países, a China poderia se comprometer a comprar maiores volumes de soja dos EUA, o que reduziria ainda mais os estoques e daria suporte aos preços em Chicago, que atualmente se mantém abaixo de US$ 10 por bushel”, comenta.
- EUA
A consultoria acredita que, mesmo que o impasse entre China e EUA continue no próximo ano, a demanda interna norte-americana seguirá incentivada, devido mudança na política de biocombustíveis. “Dessa forma, 2020 começa com uma acomodação do balanço de oferta e demanda dos Estados Unidos, como resultado de uma produção menor, com o mercado monitorando a safra da América do Sul”, afirma a INTL FCStone.
- BRASIL
Já os impactos para o Brasil, apesar dos atrasos iniciais no plantio da safra 2019/2020, a consultoria vê boas chances de o país conseguir um recorde de produção. Atualmente, a INTL FCStone estima a produção de soja em 121,6 milhões de toneladas. “De qualquer maneira, o clima em dezembro e janeiro será decisivo para a viabilizar esse recorde de produção”, aponta.
Quanto à demanda pela soja brasileira, no mercado doméstico, as expectativas são muito positivas, com a previsão de aumento da mistura de biodiesel no diesel em março de 2020, para 12%, e com a produção e as exportações de carnes aquecidas, puxadas pela maior demanda chinesa por proteína animal.
- ARGENTINA
Na Argentina, a expectativa da Bolsa de Cereales de Buenos Aires é de um pequeno aumento de área, alcançando 17,7 milhões de hectares. “Mas, o clima também precisa ser favorável nos próximos meses para viabilizar uma boa safra no país”, conta.
- CHINA
Já a demanda chinesa por soja gera muitas dúvidas. O país deve demorar anos para recuperar seu rebanho suíno. Mesmo assim, não se espera um impacto sobre o consumo de soja e de farelo na mesma proporção.
“Está ocorrendo uma maior introdução do farelo na ração, para favorecer o ganho de peso dos animais, em um momento que o setor de produção de carne suína do país está se consolidando. Também há o aumento da produção de outros tipos de proteína, como aves e peixes. Além disso, a recuperação do número de animais vai ajudar a reforçar o consumo de farelo.”
De fato, a China importou menos soja ao redor do mundo no ciclo 2018/2019, mas o Brasil continuou sendo a origem preferencial, diante da continuidade da guerra comercial.
“Caso os Estados Unidos e a China entrem em um acordo, as exportações brasileiras de soja podem acabar prejudicadas, pelo menos em um primeiro momento, até uma recuperação mais significativa das importações chinesas”, diz.
O que o mercado está de olho?
Para os próximos meses, além do resultado da safra da América do Sul e das expectativas para as negociações da guerra comercial, a definição da área plantada da safra 2020/2021 dos Estados Unidos deve estar no centro das atenções.
“O balanço mais equilibrado do país pode abrir caminho para um crescimento de área, como já sinalizado por números preliminares do USDA. Contudo, uma manutenção ou mesmo um eventual acirramento da guerra comercial pode afetar essa perspectiva.”