Presidente voltou a criticar isolamento adotado por governadores e prefeitos, afirmou que Estados e municípios ‘erraram na dose’ e disse que ‘roda da economia’ foi atingida
Por Cristiane Agostine e Fernando Taquari, Valor — São Paulo
O presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar nesta quarta-feira as medidas de isolamento social adotadas pelos governadores e prefeitos de todo país, afirmou que Estados e municípios “erraram na dose” e disse que a “roda da economia” foi atingida.
Siga o Valor Investe:
Em entrevista ao apresentador José Luiz Datena, da TV Bandeirantes, Bolsonaro defendeu mais uma vez o fim da quarentena e afirmou que seria melhor que as pessoas com menos de 60 anos se contaminassem agora com o coronavírus, para servirem de “barreira” aos mais velhos quando o inverno chegar.
Na entrevista, Bolsonaro disse que dentro de três meses, no inverno, “vai morrer mais gente porque haverá pico de ida aos hospitais”. “A garotada abaixo de 40 anos, a princípio contraindo vírus, não vai ter problema. Se infectando agora, vai ser uma barreira no futuro para não transmitir o vírus aos mais idosos”, afirmou o presidente.
“É conta que você bota na mesa e vê que as medidas por parte de alguns governadores e alguns prefeitos foram excessivas porque atingiram a roda da economia. Alguns falam que economia você recupera e a vida não. Não tem nada a ver. Anda junto. Emprego e saúde andam juntos”, declarou.
Em mais uma declaração pública contra a quarentena, o presidente reforçou: “O efeito colateral das medidas vai ser muito mais grave do que a doença”, disse. “O clima de pavor, de histeria foi criado por pessoas que exageraram na dose [do isolamento social]”, afirmou Bolsonaro.
Minutos antes da entrevista, o Ministério da Saúde divulgou que pelo menos 241 já morreram no país por covid-19 e 6.836 estão infectadas com o novo coronavírus.
Na visão do presidente, “alguns chefes de Executivo tomaram decisões exageradas” e as consequências estão vindo, com o aumento do desemprego. Mais uma vez, Bolsonaro voltou a falar que o país deve ter um caos social em decorrência da quarentena. O presidente disse que dentro de pouco tempo os Estados não terão mais recursos para custear a folha de pagamentos e que os governadores não poderão correr para pedir auxílio do governo federal.
“[Agora] é muito mais grave do que a greve dos caminhoneiros”, disse. “Não podemos ficar pensando em agradar A, B ou C. Temos que fazer a coisa certa”. Bolsonaro citou o caso do Rio Grande do Sul, cujo governo prorrogou a quarentena até o dia 15 de abril, e , durante a entrevista, disse que é preciso que o país busque uma “maneira para as pessoas voltarem ao trabalho”, para aquelas que “ainda têm emprego, que não foram abatidas por onda de desemprego”, disse. “Vai morrer alguém? Vai. Lamento. Minha mãe tem 92 anos e pode morrer [com a doença]”.
(Com conteúdo publicado originalmente no Valor PRO, o serviço de notícias em tempo real do Valor)